Myrthes Gomes de Campos
Myrthes Gomes de Campos nasceu em Macaé, Rio de Janeiro, em 1875. Aos 23 anos de idade, em 1898, bacharelou-se na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, e tornou-se a primeira mulher a exercer formalmente a advocacia no Brasil. Note-se que outras mulheres já haviam finalizado o curso de Direito na Faculdade de Recife antes dessa data. Entre essas, se pode nomear, por exemplo, Delmira Secundina, Maria Fragoso e Maria Coelho da Silva Sobrinha. No entanto, nenhuma chegou a exercer de fato a profissão naquele momento. Após a formatura, em 1898, Myrthes Campos empenhou-se em conseguir a autenticação de seu diploma no Tribunal da Relação do Rio de Janeiro. O exercício profissional também dependia do reconhecimento pela secretaria da Corte de Apelação do Distrito Federal, onde Myrthes encontrou obstáculos, visto que havia resistência do desembargador José Rodriguez, presidente da Corte, fundamentada na alegação de que a advocacia não seria ofício apropriado para mulheres. Uma vez conquistada a legitimação, ainda no mesmo ano, buscou filiar-se ao Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (IOAB), algo inédito, considerando que nenhuma mulher havia participado da instituição desde a data de sua fundação, no ano de 1843. Assim, em 1899, inaugurou seu escritório, no centro do Rio de Janeiro. Recebeu seu primeiro caso na Tribuna, e em seu discurso de abertura defendeu a capacidade das mulheres para a atuação na advocacia. Sua trajetória, porém, foi interrompida por colegas da IOAB, que levantaram indagações sobre a presença de mulheres na profissão, abrindo uma reclamação na Comissão de Sindicância do órgão. Foram alegadas dúvidas sobre sua competência e a ameaça de que a profissionalização feminina fomentaria o fim da família brasileira. O processo durou 7 anos. Apenas em 1906, Myrthes foi habilitada novamente como advogada. Passou, então, a defender a causa feminista. Em 1910, colocou em pauta o reconhecimento do voto feminino, alegando que este não era negado expressamente pela Constituição. A discussão, entretanto, foi indeferida, e só seria recuperada em 1932. Teve participação em projetos da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), como oradora nacional no I Congresso Feminista Internacional de 1922. Em 1924, assumiu um cargo no setor de jurisprudência do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, que ocupou até a data de sua aposentadoria, em 1944. Também tornou-se colunista do Jornal do Commercio. Continuou a defender a emancipação feminina até a data de sua morte. Faleceu em janeiro de 1963.