João W. Nery
O psicólogo João W. Nery nasceu em fevereiro de 1950. Formou-se em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especializou-se em Sexologia pelo Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE). Foi mestrando em Psicologia da Educação pela Universidade Gama Filho (UGF) e lecionou em três universidades (Gama Filho, Hélio Alonso e Celso Lisboa), além de ter mantido um consultório de psicoterapia. Em 1977, optou por realizar a mamoplastia masculinizadora e pan-histerectomia, tornando-se o primeiro homem trans a realizar uma cirurgia de redesignação sexual no Brasil. Os procedimentos, realizados de forma clandestina, ainda eram proibidos, e seriam legalizados apenas em 1997. Como consequência, por falta de uma legislação própria para o reconhecimento da identidade transexual, João perdeu seus direitos civis e a validade de seus diplomas, sendo obrigado a abandonar a carreira docente. Tornou-se, então, escritor, havendo publicado dois livros autobiográficos que são hoje obras de referência para o estudo da transexualidade e o desenvolvimento dos direitos LGBTQIA+ no Brasil: “Erro de pessoa – Joana ou João”, publicado em 1984, e “Viagem solitária – memórias de um transexual 30 anos depois”, publicado em 2011. O livro “Viagem solitária” foi agraciado com dois prêmios de Literatura: o Prêmio Astra, da Associação de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro, em 2011, e o da 10ª Parada Gay de São Paulo, em 2012. Pelo conjunto da obra, recebeu também o prêmio Arco Íris de Direitos Humanos em “Visibilidade Trans”, dado pela 16ª Parada de Orgulho LGBT do Rio de Janeiro, em 2011. Foi membro fundador da Associação Brasileira de Homens Trans (ABHT), criada em 2012, e do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (IBRAT), criado em 2013, sendo um dos seus conselheiros nacionais. Ainda em 2013, o deputado federal Jean Wyllys e a deputada federal Érika Kokay protocolaram na Câmara o projeto de lei 5002/13, com o nome de João W. Nery, para garantir o direito do reconhecimento à identidade de gênero de todas as pessoas trans no Brasil, sem necessidade de autorização judicial, laudos médicos ou psicológicos, cirurgias ou hormonioterapias. O projeto de lei foi respaldado pelo Supremo Tribunal Federal, que decidiu por garantir os seus efeitos mesmo antes de que seja concluída a sua tramitação no Congresso. Em 2018, por sua atuação e militância, recebeu o título Doutor “Honoris Causa” da Universidade Federal do Mato Grosso, se tornando o primeiro homem trans a receber tal título em todo o mundo. Faleceu em outubro do mesmo ano, no Rio de Janeiro.