Esperança Garcia
Esperança Garcia foi uma mulher escravizada no Piauí, no município de Oeiras, ainda no séc. XVIII. Tendo nascido em uma fazenda cuidada por padres da Companhia de Jesus, os Jesuítas, teve a oportunidade de aprender a ler e escrever, graças à parte do processo de “civilização” perpetuado pela Companhia.
Aos 16 anos, casou-se e teve seu primeiro filho. Em decorrência das desavenças entre os padres Jesuítas e a coroa portuguesa, que culminou na expulsão dos mesmos por Marques de Pombal no ano de 1759, a fazenda onde Esperança Garcia vivia foi transferida para a mão de novos senhores, que a separaram de sua família, aos seus 19 anos.
A partir daí, Esperança se dedicou arduamente a reencontrar seu filho e marido, além de denunciar as condições desumanas em que vivia junto a outros escravizados. Em uma carta datada em 6 de dezembro de 1770, ela relatou de maneira detalhada os abusos sofridos por ela e outros escravizados, além de solicitar o resgate do grupo por parte do governador do estado, a quem a carta estava endereçada.
A partir do descobrimento da carta em 1979, pelo historiador Luiz Mott, no arquivo público do Piauí, o movimento negro do estado atuou em fortes movimentos de reinvindicação, que deram resultado anos depois, em 1999, com o dia 6 de setembro, mesmo dia em que a carta foi escrita, sendo oficializado como Dia Estadual da Consciência Negra. Já em setembro 2017, em solicitação da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra do Piauí, Esperança Garcia foi reconhecida pela OAB do estado do Piauí como a primeira advogada piauiense. No dia 22 de maio de 2023, foi alcançada mais uma conquista, vindo o reconhecimento por parte da Conselho Federal da OAB de Esperança Garcia, mulher negra e escravizada, como primeira advogada do Brasil.