Abdias Nascimento

Diminuição das desigualdades sociais e regionais Diversidade cultural e identidade nacional

Abdias Nascimento nasceu em março de 1914, em Franca, Estado de São Paulo. Completou o segundo grau, com diploma em contabilidade, em 1928. Alistou-se no Exército em 1929, mudando-se para a capital São Paulo. Lá, a partir da década de 1930, participou da Frente Negra Brasileira. Em 1938, formou-se como economista pela Universidade do Rio de Janeiro. No mesmo ano, organizou o Congresso Afro-Campineiro, que protestou contra a discriminação racial e discutiu as relações raciais na cidade de Campinas-SP. Participou dos movimentos de protesto contra o regime do Estado Novo, o que lhe valeu uma prisão pelo Tribunal de Segurança Nacional. Posteriormente, no início dos anos 1940, por resistir à discriminação racial na capital de São Paulo, foi preso novamente, agora na Penitenciária de Carandiru, por dois anos. Em 1943, fundou naquela instituição o Teatro do Sentenciado, cujos integrantes, todos prisioneiros, criavam, ensaiavam e apresentavam seus próprios espetáculos teatrais. Também ajudou a fundar o jornal dos prisioneiros.

Livre outra vez, em 1944, fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN), a primeira entidade afro-brasileira a conectar a luta pelos direitos civis para sujeitos negros e a valorização da herança cultural africana. O TEN oferecia cursos de alfabetização e de cultura geral a seus integrantes: empregados domésticos, trabalhadores e operários, desempregados e funcionários públicos diversos. Formou a primeira geração de atores e atrizes negros e favoreceu a criação de uma dramaturgia que focalizasse a cultura e a experiência de vida dos afro-brasileiros. Sob a liderança de Abdias, o TEN organizou a Convenção Nacional do Negro, em 1945 e 1946, que propôs à Assembleia Nacional Constituinte a inclusão de um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-Pátria e uma série de medidas afirmativas anti-discriminatórias. O TEN realizou também a Conferência Nacional do Negro, em 1949, e o 1º Congresso do Negro Brasileiro, em 1950, ambas no Rio de Janeiro.

Abdias foi um dos principais organizadores do Comitê Democrático Afro-Brasileiro, entidade que lutou pela libertação dos presos políticos do Estado Novo. Mantinha contato com os movimentos de libertação africanos e com o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. Atuou no Partido Trabalhista Brasileiro, principal força política de oposição ao regime militar. Fundou o projeto do Museu da Arte Negra, com exposição inaugural em 1968. Pouco depois da exposição, foi aos Estados Unidos, com apoio da Fundação Fairfield, com o objetivo de realizar intercâmbio entre os movimentos norte-americano e brasileiro de promoção dos direitos civis e direitos humanos da população negra. Foi impedido de retornar ao Brasil por força do Ato Institucional nº 5. Viveu em exílio entre os Estados Unidos e a Nigéria. Durante este período, desenvolveu sua obra artística e a apresentou em diversa exibições internacionais. Em 1978, de volta ao Brasil, participou dos protestos e atos públicos e das reuniões de fundação do Movimento Negro Unificado contra o Racismo e a Discriminação Racial, hoje MNU. Também ajudou a criar o Memorial Zumbi, do qual foi presidente. Em 1981, fundou o IPEAFRO – Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, que organizou o 3º Congresso de Cultura Negra nas Américas (São Paulo, 1982) e o Seminário Nacional sobre 100 Anos da Luta de Namíbia pela Independência (Rio de Janeiro, 1984). Estes eventos foram as primeiras oportunidades em que o Brasil recebeu uma representação do Congresso Nacional Africano (ANC) da África do Sul e da Organização do Povo do Sudoeste da África (SWAPO) da Namíbia.

O IPEAFRO criou um dos primeiros cursos de preparação de professores para a introdução da história e da cultura africanas e afro-brasileiras no currículo escolar. Em 1991, Abdias Nascimento se tornou o primeiro senador afrodescendente a dedicar o seu mandato à promoção dos direitos civis e humanos do povo negro do Brasil. O governador do Rio de Janeiro, Leonel de Moura Brizola, o nomeou titular da nova Secretaria de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Governo daquele Estado, posição que desempenhou até 1994. Terminado o seu mandato no Senado Federal, em 1999, Abdias assumiu como primeiro titular da nova Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 1995, foi eleito Patrono do Congresso Continental dos Povos Negros das Américas, realizado no Parlamento Latino-Americano em São Paulo, na ocasião do 3o Centenário da Imortalidade de Zumbi dos Palmares. Entre as honrarias que recebeu, se pode destacar o prêmio UNESCO na categoria “Direitos Humanos e Cultura”, em 2001, e o Prêmio Comemorativo da ONU por Serviços Relevantes em Direitos Humanos, em 2003. Faleceu no Rio de Janeiro, em 2011.